terça-feira, 8 de março de 2011

Infinity Blade, Epic Citadel e O Exorcista. Games e arte.

Meu pensamento dá voltas. O mestrado acaba e continuo fazendo pontes interdiscursivas, buscando diálogos entre obras pop e clássicas, na tentativa de relativizar a relação entre elas. E desse vez me peguei no videogame.

Tava jogando Infinity Blade, game para celular. O verniz RPG me parecia meio impenetrável, mas a jogabilidade é incrível. O deslizar de dedos pela tela são interpretados como os golpes de espadas que você desfere sobre os inimigos, e os pontos de experiência ganhos são acumulados, para que você possa se tornar o fodão do pedaço e derrotar God King, o ditador da sua vila feudal.

Interessante é que não vc não tem “vidas”. Se vc morre, a história salta uns 20 anos e seu descendente irá vingar sua morte, herdando as armas de papai, que foram do vovô, que eram do seu bisavô... e assim vai.

Ainda assim, depois que minha quinta geração matou o God King, continuei jogando da mesma forma, com meu descendente querendo vingança pela morte do pai. Pensei: “Será que nesses 20 anos que se passaram fui seduzido pelo lado negro da Força?”. Anyway, um baita jogo, de gráficos incríveis.

Eis que encontro Epic Citadel, um software q permite q vc possa passear por uma cidadela feudal. Foi desenvolvido apenas para demonstrar a capacidade gráfica do software usado por Infinity Blade. Porém, foi aqui q encontrei algo q me surpreendeu.

Explorei Epic Citadel como se fosse a cidade que acabei de salvar do tirano God King [e talvez realmente seja]. E percebi que a ambientação causada pela iluminação tava me causando estranheza e fascínio. Andava para um lado e parecia noite. Olhava pro céu e era dia claro. Então consegui uma imagem fantástica, que compartilho aqui:

Tchans! É uma recriação virtual e feudal do quadro Empire of Light, do Rene Magritte, ou estou enganado???

Confere:

Quadro que, por sua vez, inspirou a concepção visual de cenas de um dos meus dramalhões favoritos, O Exorcista???

Espero q seja proposital. Demonstraria um esforço fantástico da produção do software, mais um passo bacaníssimo em direção à validação dos games como plataforma de representação artística, dessa vez investindo nos games para celulares.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Os mais recentes trabalhos de Gondry

Tá lá.
Depois de um filme metade pavoroso, metade estimulante, Michel Gondry volta às raízes com o videoclipe How Are You Doing?, para as Living Sisters.


Nunca ouvi falar delas, e o Joey não aparece em nenhum momento. Brinks.
O clipe traz a estética artesanal típica do bom diretor, com ônibus de brinquedo, cenários de papelão etc. Split screen, tão bem aproveitada em Sugar Water e em uma das seqüências mais inspiradas de O Besouro Verde, aqui aparece de forma a contribuir ao caos da pequena narrativa.
Mas ainda não bate os supracitados exemplos. [E revejam Sugar Water. É clipe para se ver infinitas vezes.]

E quanto ao filme metade pavoroso, metade estimulante, é obviamente O Besouro Verde. Gondry não parece à vontade no cinemão blockbuster. Muitas cenas genéricas para poucas cenas inspiradas, com situações e diálogos tenebrosos, do tipo que dão vergonha alheia. Pelo menos as coisas ruins se concentram no começo do filme. Quando os protagonistas tornam-se anti-heróis de fato, o filme decola.
E o nonsense que toma conta do filme então me conquistou. Gondry usa split screen de forma deslumbrante, um primor: a câmera acompanha duas pessoas, a tela se divide em duas, uma vai pra direita, outra vai pra esquerda. Tudo em aparente plano sequencia, sem cortes! E dessa forma a tela vai se recortando, criando um mosaico que foge ao controle da platéia, justamente no momento em que a fama do Besouro Verde gera uma conseqüência violenta no submundo criminoso.

Ao final, ultraviolência intensa e cartunesca - adaptação carne, osso e sangue dos desenhos do Looney Tunes - e uma correria insana e engraçadíssima graças ao veículo da dupla, o Black Beauty, que parece ser cria do casório entre Jason Vorhees e Michael Myers.

Pela má recepção que o filme teve por parte da crítica e público, acho q o mundo não está preparado para um “herói” que não apresenta características redentoras em seu caráter; age de forma egoísta, só pensa no próprio rabo e seus atos heróicos são acidentais. Já eu não estava preparado para atores ruins e mal escalados. Cameron Diaz parece um peixe fora d’água.

E tudo isso aparecendo uma semana após eu dar por encerrado meu mestrado focado em Michel Gondry.
Timing é uma arte para poucos.

terça-feira, 1 de março de 2011

Born this way - Lady Gaga


Opinião profunda, ok? Pq eu PIREI no clipe do liquidificador Gaga!!!

Pra começar, música do Alien, fluidos, ovários cósmicos, úteros e o melhor uso de tela refletida pra fazer aquele parto fist fuck na Gaguinha, tudo no imaginário dA Feminilidade. O nascimento de um povo livre de preconceitos, como ela própria disse. Achei digno, achei rico, achei freak. Já o unicórnio e o arco-íris puxa a sardinha pro lado beeba, of course, tinha de ser. Ouso dizer até q é citação a Blade Runner, sem achar q forcei a barra.

O q me incomoda é q nessa geração Gaga, de ossos pontudos, seios e genitais substituídos por traços, não parece ter espaço para outros tipos de corpos q não aqueles que atingem as expectativas impossíveis de malhação e alimentação livre de carboidratos.
Espero q seja questão de tempo.
Adoraria ver um gordinho e uma gordinha dançando com a Gaga, aí sim acho q ela se tornaria de vez a "porta-voz" do anti-preconceito e pró-freakismo. Free-ak. [neologisei]
Ficar usando próteses pontudas para simbolizar o novo, enquanto uma variedade incrível de corpos humanos e que pouco tem espaço no imaginário pop passa ignorado -- aparentemente, do próprio público que a Gaga deseja atingir: freaks, nerds, gays, trans, amputados, autistas, GLBTTTEYXZ ETC. Espero uma coisa mais Glee [exceto o politicamente correto do seriado, yuck].
Janelle Monae e The Gossip se encaminham melhor nessa direção em Tightrope e Love Long Distance, respectivamente.
Youtuba aí.

Anyway, obrigações da gravadora ou conformismo.
Fato, o final do clipe é genial. A geração Gaga é a cara da mãe, e a mãe é a Madonna. Tratando-se de símbolos, tá lá na cena final. Uma criatura parida por Mother Monster andando por um beco oitentista, de textura oitentista, de efeito oitentista, e q no close é a cara da Madonna em Rain. E isso não é piada! Ela está se vendendo como a próxima Madonna, mas tbm convocando o público a assumidamente serem filhos de Madonna. Se Lady Gaga perdeu a chance de se validar como a defensora dos freaks, ela manda bem no comentário do pop atual.
Acho que é válido, acho q é o zeitgeist.
Não vivemos uma época de quebra de paradigmas, o diferente é prontamente fagocitado pelo mainstream. Os produtos pop de hoje são regurgitações do passado próximo, um momento em que tudo e nada se igualam. Madonna foi a última artista pop que quebrou com tudo, que ditou a moda. Mas seu reinado acabou e hoje ela mesma é vítima de seus avanços. Tudo se aceita, tudo pode, tudo se compreende.

E finalizando, o discurso sci-fi tbm me ganhou.
Profusão de prefixos e sufixos pra deixar o texto mais pirado e outras viagens a parte, "How can I protect something so perfect without evil?"
Pô, viajei instantaneamente ao ouvir essa frase.
Será q a Gaga tirou de algum cara foda ou é criação própria? Se for a segunda opção, a muié é a filósofa pop mais foda q já vi nos últimos 15 segundos [ah, a efemeridade].
Há um lampejo de discussão nessa frase sobre a natureza do mal, um ângulo e uma posição diferenciados sobre o assunto, que provavelmente se perderá no mar de outras referências mais gritantes e fáceis que o clipe oferece.
Veremos.